sexta-feira, 4 de abril de 2014

João Tordo apresenta o seu último romance, com um remate em Si bemol (Por Sandra Gonçalves)


  • João Tordo lançou na quinta-feira, na Fundação José Saramago, o seu último romance, «Biografia involuntária dos amantes», que assinala a sua estreia na editora Alfaguara. A apresentação esteve a cargo do escritor José Eduardo Agualusa. Perante um anfiteatro todo ele afecto, com familiares, amigos e fãs, contou que este livro, o sétimo já editado, é «uma tentativa de compor identidades; tem um lado orgânico».
«Biografia involuntária dos amantes» passa-se numa estrada adormecida da Galiza. Dois homens atropelam um javali. A visão do animal morto na estrada levará um deles – Saldaña Paris, um jovem poeta mexicano – a puxar o primeiro fio do novelo da sua vida. Instigado pelas confissões desconjuntadas do poeta, o seu companheiro de viagem – um professor universitário divorciado – irá tentar descobrir o que está por trás da persistente melancolia de Saldaña Paris.
À plateia, João Tordo contou que alterou a sua rotina ao compor este romance. O livro «foi mudando de dia para dia, não o planeei e descobri que sou muito mais livre quando as personagens falam por si, e sem haver uma mecânica no enredo».
Esta é uma obra que resulta de partilhas e cumplicidades; a história do javali foi-lhe contada por um amigo, o poeta mexicano conheceu-o no Canadá em 2012, o professor universitário é inspirado no escritor galego Carlos Quiroga, e Teresa, personagem principal do livro, é inspirada na sua mãe.

«É interessante escrever assim, leva-nos a um confronto com a nossa própria vida», enfatizou, para, de seguida, acrescentar que este romance «joga com reconhecimentos»; descobriu, ao compô-lo, que sozinho não consegue fazer nada.
No dia em que o Benfica preparava-se para defrontar o AZ Alkmaar na Holanda (João Tordo é um ferrenho benfiquista), temia-se que a sala estivesse vazia. Pelo contrário. Mas em várias ocasiões brincou-se sobre isso.
Voltando ao livro, o escritor, que venceu o Prémio Literário José Saramago com «As três vidas» (2008) – pelo que o facto de a apresentação ter ocorrido na Fundação Saramago ter conferido um relevo especial ao evento –, assumiu que inconscientemente acaba por «fazer a migração de personagens de livro para livro», mas que neste «Biografia involuntária dos amantes» conseguiu «fechar personagens e ciclos».
Porém, se ao longo de toda a obra deixou que a história fluísse alheado da sua vontade, sem um motor, o final reescreveu-o muitas vezes. Não queria que tivesse um desfecho «grave nem muito agudo», assumiu. «É um final em Si bemol, como uma sinfonia de Beethoven.»
Confessou ainda que tem um alter-ego que transporta para o seu trabalho e que é através dele que se diverte a fazer jogos. «Gosto de divertir-me no trabalho», disse a rir.
João Tordo confidenciou que este romance «foi muito pacificador, veio de um lado muito sincero». Quando o terminou, revelou, sentiu-se perfeito, por que o ajudou a aceitar todas as suas imperfeições. «Abdiquei do controlo. Soube perder. E isto é muito bom, muito pacificador.»
No final da apresentação, a plateia foi surpreendida com uma intervenção imprevista; um primor. Pilar del Río juntou-se ao evento para dar os parabéns a João Tordo, desejou a todos os presentes «uma boa travessia» e fez questão de frisar que aquela casa, a Fundação José Saramago, «estará sempre aberta a todos».

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