quinta-feira, 9 de junho de 2016

Com vista a racionalizar todo o seu percurso e chegar ao âmago da questão, um deles balbuciava
- A S. Está cada vez mais triste. Onde foi que errámos, explicas-me? Estou um caco, sinto-me impotente e há três dias que não consigo pregar olho. Já te deste conta do abismo profundo em que ela vai cair? Onde estávamos nós? Onde estivemos nós este tempo todo?
De perna cruzada, ele abanava a cabeça. Ela detivera o olhar algures, na máquina do café, talvez, nas reminiscências da rapariga forte que fora a sua S.
- Quem diria
Não espero alcançar nem extrair, de modo algum, o que lhe desgasta os dias penosos e rastejantes. Insisti na procura de vocábulos que não fossem ferir susceptibilidades. Não obstante, queria ser objetiva e que eles entendessem o novelo que é projetado a cada passo dado em direção à sala das confissões, eufemismos à parte.
- O abismo está declarado, meus senhores. Lamento. Calma, paciência, compreensão, dedicação, conforto e amor. É tudo o que ela necessita, somente ainda não se encontra receptiva a tamanho impacto. Subtilezas que ela desconhece. Confiem ou não no que vos passo a dizer, a S. vive livremente aprisionada. Aqui não existe nenhum caos por decifrar.
Irreal, direis vós. Aqui dispo-me de preconceitos. A perfeição é uma utopia e remar até este estado consciente é uma glória.

C.V. "baú das memórias"

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